Uso Clínico da Glutamina

A glutamina é um aminoácido neutro que é electrofisiologicamente inerte (1). A glutamina é de longe o aminoácido mais abundante no plasma e tecidos em humanos e tem numerosas funções fisiológicas importantes (2,3,4). No músculo-esquelético a glutamina compõe mais de 60% da pool de aminoácidos livre (5).

A glutamina é um aminoácido condicionalmente essencial importante com funções relacionadas com a resposta imune a danos musculares, e é também utilizada como fonte de energia pelos linfócitos e macrofagócitos (6). Além disso é também um componente do fluído cerebrospinal, mucosa intestinal e células imunitárias como substrato energético, e serve também como um transportador de azoto.

A concentrações plasmáticas são entre 400 e 600 µmol/l. As concentrações nos tecidos variam entre 2 a 20mmol/l de água intracelular (7). Na água intracelular dos enterócitos as concentrações de glutamina variam entre 2 a 4 mmol/l (8). Para o músculo e fígado as concentrações variam entre 5 a 20 mmol/l (7,9).

A maioria da síntese da glutamina ocorre no músculo-esquelético, que então é libertada para o plasma a ritmos elevados. No músculo-esquelético a glutamina ajuda a remover ácidos e armazenar glicogénio (10,11) e proteína (12). Contudo, a glutamina não é melhor que a glicose ao restaurar o glicogénio muscular após exercício (11) e adicionar glutamina a aminoácidos essenciais e hidratos de carbono não aumenta a síntese de glicogénio ou proteica após exercício de resistência (13).

A glutamina pode também aumentar o volume celular (14). Tendo em conta as funções na imunidade e anabolismo, a glutamina foi avançada, ou podemos dizer promovida, como um suplemento vital para atletas de resistência (15,16), pois os níveis plasmáticos de glutamina tendem a estarem diminuídos umas horas depois de exercício prolongado.

A suplementação com glutamina pode restaurar as concentrações plasmáticas da glutamina e melhorar a função sistémica do sistema imunitário (17,18). Embora os dados sejam no geral fracos, alguma pesquisa suporta efeitos positivos da glutamina na função imunitária e prevenção de infecções do trato respiratório superior (19,20,21). As possíveis vantagens explicam em parte o aumento em popularidade da suplementação da glutamina para atletas de força e resistência.

Por outro lado, poucos estudos suportam a eficácia em melhorar a função muscular e redução de dores musculares (22,23). Não há evidências convincentes que suportem a suplementação de glutamina em termos de aumento da massa magra (24).

Uso Clínico da Glutamina (doença ou trauma)

Em populações doentes, ou após um trauma ou cirurgia, há um aumento de aminoácidos livres mobilizados do músculo-esquelético (25,26). Uma diminuição da concentração da glutamina livre no músculo é muito indicativo de catabolismo do corpo todo (27,28,29). A mesma redução de glutamina muscular é também observada após 3 dias de jejum (30).

Doença grave resulta em desperdício de massa muscular e quando prolongada a perda de músculo pode ser extensa (31,32): a perda de massa magra pode ocorrer após uns dias de uma queimadura grave (33,34); uma perda de massa magra que exceda 15% do peso total resulta numa diminuição na capacidade de recuperar de uma lesão; uma perda de 30% resulta em aumento de infecções, fraqueza severa, quebra de pele e incapacidade de curar lesões (35); e em casos extremos 40% de perda de massa magra resulta em morte geralmente de pneumonia (36).

Uma perda inevitável de massa magra entre 10-15% ou mais pode ocorrer ao longo de várias semanas, mas apesar das células estarem predispostas ao anabolismo após a lesão ou doença estarem resolvidos (37) o ritmo de ganho de massa magra ou restauração da proteína é muito mais lenta que a perda (34,37).



(30)

Linha preta sólida: grupo de controlo, não recebeu suporte nutricional parenteral extra; linha quebrada: recebeu nutrição parenteral que começou no início da admissão no hospital 3 semanas após o ataque agudo e continuou até 14 dias após a operação (37).

Não obstante, a libertação de aminoácidos do músculo durante doença é considerado essencial para recuperação, cura de feridas, resposta imunitária e necessidades energéticas (38), com os dois aminoácidos principais libertados a serem a alanina e glutamina (39). A alanina é principalmente usada pelo fígado para formar glicose e glutamina e é necessária para proliferação celular (40), combustível para o intestino e é importante para manter a integridade intestinal da translocação de endotoxinas (41).

Em pacientes com queimaduras gravesalterações no transporte de glutamina muscular com aumentos significativos no transporte unidirecional da glutamina do músculo levando a uma queda nas concentrações de glutamina muscular (36). Há também uma produção acelerada e libertação de alanina. Piruvato é transaminado com glutamato para formar alanina, e glutamina é formada de glutamato e amoníaco, deste modo a depleção de glutamato para formar alanina pode limitar o ritmo da síntese de glutamina (42). Outras análises também mostram um aumento na libertação de glutamina muscular, com ritmos reduzidos de transporte de glutamina e síntese dentro do tecido muscular (43).

Estas alterações no metabolismo da glutamina podem sugerir uma possível adaptação metabólica do músculo a depleção prolongada de glutamina; a diminuição no ritmo da síntese de glutamina pode limitar mais perda de músculo (44,45). Por outro lado, indivíduos saudáveis com disponibilidade de glutamina exibem uma diminuição reciproca na produção de glutamina indicativo de uma resposta de feedback apropriada ao aumento da disponibilidade de glutamina (46).

Apesar disso, em doenças críticas, o consumo visceral de glutamina permanece alto enquanto a disponibilidade de glutamina diminui, embora até haja uma melhor eficiência no transporte de glutamina para fora do músculo (36,47).

Aumentos na concentração de sódio intra-muscular, cortisol, adrenalina, glucagon, e reduções em insulina, ou exposição a endotoxinas podem todos resultar em redução de glutamina intra-muscular (48).

Parenteral vs. Enteral

Parenteral

Efeitos positivos da glutamina no catabolismo (anti-catabolismo) são apenas vistos quando administrado pela via parenteral (intravenosa) e em populações doentes, após cirurgia (49) ou em resposta a trauma, stress agudo, infecção e queimaduras (36,50).

A resposta plasmática da glutamina é mais pronunciada quando administrada intravenosamente que quando pelo via oral (51). Efeitos anabólicos de glutamina intravenosa são vistos em animais (52,53) e em humanos (54,55).

Enteral

Num estudo a glutamina, quando administrada oralmente, foi toda metabolizada no intestino e não teve qualquer efeito notável na cinética proteica do corpo todo (56). Após uma suplementação de Ala-Gln uma grande parte da glutamina foi provavelmente metabolizada na área visceral (51).

A glutamina em circulação é absorvida pelo intestino pequeno (57,58), especialmente pela mucosa que usa a glutamina como substrato para produção energética até mesmo na presença de glicose (59). O total do uso da glutamina administrada pela via oral no intestino representa cerca de 50-70% da glutamina ingerida (60,61) e é também usada pelo fígado para gluconeogénese em jejum.

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Referências
 
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