Uma Análise a Uso de Esteróides Anabólicos em Competidores de Culturismo, Physique e Wellness.



Um recente estudo analisou as práticas de competidores IFBB. Seis (quatro homens e duas mulheres) culturistas e os seus treinadores foram directamente entrevistados (1).

Participantes

2 culturistas masculinos na mesma categoria.
2 competidores de Men’s Physique na mesma categoria.
2 mulheres a competir em categorias diferentes de Wellness.



Todos os competidores usaram esteróides anabólicos durante a fase de ganho de massa (bulking) e fase de secagem. Também usaram efedrina  e hidroclorotiazida (diurético) durante a fase de secagem. Treinaram cada músculo uma vez por semana e todos fizerem exercício aeróbico em jejum.

Durante a fase de ganho de massa os culturista ingeriram 2.5g/kg e  proteína. Na fase de secagem a proteína aumentou para 3g/kg e a ingestão de hidratos de carbono desceu em 10-20%. Durante todas as fases o consumo de gordura correspondeu a cerca de 15% das calorias totais.

Os suplementos usados foram Soro do leite (whey), pecolinato de cromo III, omega 3, BCAAs, multi-vitaminico, glutamina e cafeína. Os homens também usaram creatina na primeira fase.

A composição corporal foi avaliada por bioimpedância, método sabido não ser o melhor e muito afectado pelo estado de hidratação. Como esperado ganharam grandes quantidades de massa isenta de gordura durante a fase de ganho de massa mas perderam muita durante a fase de secagem a par da massa gorda. Grande parte da perda de massa isenta de gordura antes da competição pode ser atribuída a desidratação.

Não obstante, a tabela mostra dados desde o início da fase de ganho de massa, ao final dessa fase, início da secagem e fim de secagem antes da competição. De notar a quantidade de massa isenta de gordura os sujeitos ganharam numa fase curta de ganho de massa (4-6 semanas). Por exemplo, o culturista 1 ganhou 7.8kg de massa isenta de gordura em 6 semanas; a competidora Wellness 1 ganhou 6.3kg em 6 semanas; a competidora Wellness 2 ganhou 9.8kg em 4 semanas; e o competidor de Men’s Physique 1 ganhou 7.2kg em 5 semanas.





As duas competidoras de Wellnes, e o Men’s Physique 1 foram capazes de reter a massa isenta de gordura ganha durante a fase de massa após a secagem, talvez devido a melhor estado de hidratação. Outro factor foi devido a práticas não baseadas em evidência no exercício apesar de terem usado esteróides anabólicos durante a secagem.

O culturista 1 ganhou a sua categoria e foi o campeão geral. O culturista 2 ficou em segundo lugar. A Wellness 1 ficou em segundo lugar na sua categoria e a Wellness 2 em terceiro. Men’s Physique 1 e 2 ficaram em quinto e terceiro, respectivamente.

Vou apenas comentar, por agora, acerca do uso de esteróides anabólicos e deixar o exercício, nutrição e suplementação para outra ocasião.

Esteróides Anabólicos

Homens:
- 500 mg/semana de enantato testosterona, 200mg/semana de boldenona e 150/mg/semana de acetato de trembloma durante a fase de ganho de massa.
- Durante a fase de secagem o culturista 2 usou 400 mg/semana de proprionato de testosterona, 200 mg/semana de estanozol de 160 mg/semana de oxandrolona.

(A dose é 9-41 vezes maior que a produção natural)

Mulheres:

- 200 mg/semana de estanozol e 200 mg/semana de decanoato de nandrolona na fase de massa;
- 200 mg/semana de estanozol, 100 mg/semana de proprionato de testosterona, 140 mg/semana de oxandrolona e 300 mg/semana de proprionato de drostanolona durante a secagem.

Para perspectiva, a quantidade de androgénos usados foi 142-285 e 264-528 vezes maior que a produção natural durante a fase de massa e secagem, respectivamente.

A testosterona aumenta a recuperação muscular (2), síntese proteica (3) e actividade das células satélite (4,5).

Para mais perspectiva: 600 mg de testosterona por semana com treino pode produzir 6 kg de massa magra em 10 semanas (6), 8-9kg de massa magra em 20 semanas sem treino (7), e 4-14 kg de massa magra (intervalo individual) em 20 semanas sem treino. Os ganhos são também dependentes da dose, quando maior a dose maiores os ganho (9,10).

Mas os esteróides anabólicos só ajudam um pouco certo? É dos treinos e dietas mágicas certo? E comer limpo, 6800 mg de potássio e outras fantasias que alguns tentam impingir nos outros certo?

Efeitos adversos de esteróides anabólicos

A testosterona pode impedir a adaptação dos tendões ao treino com resistência (9) e aumentar o risco de ruptura de tendões, particularmente no corpo superior (10). Outros efeitos adversos são enfartes do miocárdio, alterações nos lípidos (diminuição de HDL e aumento de LDL), elevações da pressão sanguínea e aumento do risco de trombose (11).

Existem também vários eventos cardiovasculares em culturistas associados ao abuso de esteróides (12,13,14,15) e o risco parece inegável (16). A par do risco cardiovascular, o fígado, sistema reprodutivo e estado psicológico são também adversamente afectados (17,18,19,20,21) e isto não deve ser ignorado (22).

 



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Referências:

1.  Paulo Gentil, Claudio Andre Barbosa de Lira, Antonio Paoli, José Alexandre Barbosa dos Santos, Roberto Deivide Teixeira da Silva, José Romulo Pereira Junior, Edson Pereira da Silva, Rodrigo Ferro Magosso. Nutrition, Pharmacological and Training Strategies Adopted by Six Bodybuilders: Case Report and Critical Review. Eur J Transl Myol 27 (1): 51-66
2. Serra C, Tangherlini F, Rudy S, et al. Testosterone improves the regeneration of old and young mouse skeletal muscle. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2013;68:17-26.
3. Wolfe R, Ferrando A, Sheffield-Moore M, et al. Testosterone and muscle protein metabolism. Mayo Clin Proc 2000;75 Suppl:S55-9; discussion S59-60.
4. Kvorning T, Kadi F, Schjerling P, et al. The activity of satellite cells and myonuclei following 8 weeks of strength training in young men with suppressed testosterone levels. Acta Physiol (Oxf) 2015;213:676-87.
5. Allouh MZ, Aldirawi MH. Effects of sustanon on the distribution of satellite cells and the morphology of skeletal muscle fibers during maturation. Pak J Biol Sci 2012;15:215-23.
6. Bhasin S, Storer TW, Berman N, Callegari C, Clevenger B, Phillips J, Bunnell TJ, Tricker R, Shirazi A, Casaburi R. The effects of supraphysiologic doses of testosterone on muscle size and strength in normal men. N Engl J Med. 1996 Jul 4;335(1):1-7.
7. Shalender Bhasin, Linda Woodhouse, Richard Casaburi, Atam B. Singh, Dimple Bhasin, Nancy Berman, Xianghong Chen, Kevin E. Yarasheski, Lynne Magliano, Connie Dzekov, Jeanne Dzekov, Rachelle Bross, Jeffrey Phillips, Indrani Sinha-Hikim, Ruoquing Shen, Thomas W. Storer. Testosterone dose-response relationships in healthy young men. Am J Physiol Endocrinol Metab 281: E1172–E1181, 2001
8. Linda J. Woodhouse, Suzanne Reisz-Porszasz, Marjan Javanbakht, Thomas W. Storer, Martin Lee, Hrant Zerounian, and Shalender Bhasin. Development of models to predict anabolic response to testosterone administration in healthy young men. Am J Physiol Endocrinol Metab 284:E1009–E1017, 2003.
9. Seynnes OR, Kamandulis S, Kairaitis R, et al. Effect of androgenic-anabolic steroids and heavy strength training on patellar tendon morphological and mechanical properties. J Appl Physiol (1985) 2013;115:84-9.
10. Kanayama G, DeLuca J, Meehan WP, 3rd, et al. Ruptured Tendons in Anabolic-Androgenic Steroid Users: A Cross-Sectional Cohort Study. Am J Sports Med 2015;43:2638-44.
11. Hoffman JR, Ratamess NA. Medical issues associated with anabolic steroid use: are they exaggerated? J Sports Sci Med 2006;5:182-93.
12. Christou GA, Christou KA, Nikas DN, et al. Acute myocardial infarction in a young bodybuilder taking anabolic androgenic steroids: A case report and critical review of the literature. Eur J Prev Cardiol 2016.
13. Sonmez E, Turkdogan KA, Yilmaz C, et al. Chronic anabolic androgenic steroid usage associated with acute coronary syndrome in bodybuilder. Turk J Emerg Med 2016;16:35-7.
14. Frati P, Busardo FP, Cipolloni L, et al. Anabolic Androgenic Steroid (AAS) related deaths: autoptic, histopathological and toxicological findings. Curr Neuropharmacol 2015;13:146-59.
15. Wysoczanski M, Rachko M, Bergmann SR. Acute myocardial infarction in a young man using anabolic steroids. Angiology 2008;59:376-8.
16. Montisci R, Cecchetto G, Ruscazio M, et al. Early Myocardial Dysfunction After Chronic Use of Anabolic Androgenic Steroids: Combined Pulsed-Wave Tissue Doppler Imaging and Ultrasonic Integrated Backscatter Cyclic Variations Analysis. Journal of the American Society of Echocardiography 2010;23:516-522.
17. Hartgens F, Kuipers H. Effects of androgenic-anabolic steroids in athletes. Sports Med 2004;34:513-54.
8. Rogol AD, Yesalis CE, 3rd. Clinical review 31: Anabolic-androgenic steroids and athletes: what are the issues? J Clin Endocrinol Metab 1992;74:465-9.
19. Kutscher EC, Lund BC, Perry PJ. Anabolic steroids: a review for the clinician. Sports Med 2002;32:285-96.
20. Kicman AT. Pharmacology of anabolic steroids. Br J Pharmacol 2008;154:502-21.
21. Angell P, Chester N, Green D, et al. Anabolic steroids and cardiovascular risk. Sports Med 2012;42:119-34.
22. Kicman AT. Pharmacology of anabolic steroids. Br J Pharmacol 2008;154:502-21




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