Será que o treino de força impede o crescimento em adolescentes? Se
pensas que sim podes estar a cair num mito antigo.
É sabido há décadas que halterofilistas juniores têm uma densidade
mineral óssea bem mais alta comparada com a média de controlos (1). O efeito
deste tipo de exercício parece sobrepor-se a diferenças entre raças e idade
(1).
Noutro estudo antigo, os valores de densidade
mineral óssea da espinha e femoral em halterofilistas júnior foram observados
ser maiores quando comparados com valores de referência adultos (homens de
20-39 anos) (2). Foi calculado que o treino de força faça parte de 30-65% da
variação, e que em halterofilista júnior de elite, a força muscular tem uma
influência principal na densidade mineral óssea devido à efeito crónico de
sobrecarga do treino (2).
Vários estudos observaram que o treino com
pesos, com técnica adequada e supervisão controlada, pode aumentar a força em pré-adolescentes e adolescentes. Experiências reportaram que o treino com peso
é eficaz ao produzir ganhos de força em pré-adolescentes, tal como mostrado
numa meta-análise (3). A eficácia do treino com resistência pode ser
influenciado por factores como idade e maturidade, sexo, tal como a frequência,
duração e intensidade do programa de treino (3). Desta meta-análise parece que
uma frequência de 2 vezes por semana é suficiente para induzir ganhos de força
em crianças (3).
Outra meta-análise consequente confirmou que o treino com resistência ou pesos parece aumentar a força e resistência muscular em crianças e jovens, e que a magnitude do efeito parece ser uma função do sexo, método de treino, e design experimental (4).
Ganhos em força podem ser atribuídos a um
mecanismo neurológico que lhes permite aumentar o número de neurónios motores
recrutados a disparar com cada contracção muscular (5,6,7,8,9).
Treino de força aumenta o crescimento
muscular que normalmente ocorre na puberdade em rapazes e raparigas através de hipertrofia
muscular (5,8,10,11).
Actividade
física regular, participação em desportos, e treino para o desporto não tem
efeito na estatura adquirida, timing do pico de velocidade de crescimento, ritmo de crescimento em estatura
(12), e também sem efeito no timing da menarche (primeira menstruação) em nadadores,
atletas de corrida e remadores (12).
Não
há efeitos adversos aparentes observados no crescimento regular, placas de
crescimento, ou sistema cardiovascular (5,6,13,14,15,16). Contudo é necessário
caução em atletas jovens com hipertensão pré-existente (5), e jovens que
receberam quimioterapia com antraciclinas (17).
Há
também evidências disponíveis para o papel da actividade física em modelar a
geometria externa e arquitectura trabecular durante o crescimento,
potencialmente aumentando a força muscular com a magnitude do efeito de 7-8% no
aumento da densidade mineral óssea (18).
A
força pode aumentar em 30-50% em crianças e adolescentes após 8-12 semanas de
um programa de treino bem planeado, com pelo menos 2 sessões por semana para
manter a força (19).
Após
15 meses de treino adolescentes femininas (14-17 anos) aumentaram a
força das
pernas (40%) e densidade mineral óssea do pescoço (20). Após 2 meses de
um
programa de treino (6 exercícios, 3x10 repetições, 3 vezes por semana)
em 19 pré-adolescentes masculinos não treinados (11-13 anos), foram
observados ganhos
de força isométrica (17.5%) e os valores médios de testosterona e índice
de
androgéno livre aumentaram (21).
Contudo,
2 meses de destreino resultou numa perda significante de força isométrica
(9.5%). Os autores concluíram que o treino com pesos produz alterações na força
independentemente de alterações na actividade anabólica e androgénica em pré-adolescentes masculinos (21).
Segurança e lesão
Como o equilíbrio e controlo de postura
tornam-se maturos em relação a valores adultos aos 8 anos de idade (22) não é
aconselhável iniciar programas de treino de força antes da aquisição dessas
habilidades (5). Uma proficiência específica ao desporto em questão deve ser
adquirida antes do envolvimento de tais programas (5).
Alguma pesquisa indica que crianças
participaram em programas de halterofilismo com poucas lesões (23,24,25),
contudo supervisão restrita e adesão a técnica adequada são obrigatórios para
reduzir o risco de lesões (5).
Várias
publicações indicam que ocorrem poupas lesões em programas cuidadosamente
supervisionados (25) e que a causa mais comum de lesão parece ser a perda de
forma quando se usa pesos pesados (26). Técnica adequada, boa supervisão e
programas de treino apropriados ao nível físico do atleta e maturidade
emocional são importantes para este efeito (25).
Alguns dos casos de lesão reportados
relacionados com treino de força incluem fracturas da placa epifisária
e lesões no lombar, primariamente atribuídos a mau uso do equipamento, peso
inadequado, técnica imprópria, ou falta de supervisão adulta de qualidade (18). Por
esta razão, profissionais de treino têm um papel essencial ao assegurar a boa
técnica, forma, e progressão de exercícios e segurança (18).
A incidência e gravidade da dor em 13 regiões
do corpo, tal como os locais e tipos de lesão em powerlifting, foram
investigados num estudo (27). A região lombar foi identificada como a região
com maior número de lesões (49) (27), e também a região com maior percentagem
dos participantes a reportarem reincidência e dor associada com o exercício
(27).
Dois casos
de fracturas de bilateral de rádio e ulnar em adolescentes foram descritas
noutra publicação, mas as fracturas sararam sem complicações (28). Os autores
salientaram que essas lesões podem ser prevenidas se os treinadores estiveram a
par da ocorrência dessas lesões e tomarem medidas preventivas necessárias (28).
Especificamente, supervisão adequada com assistência nas duas pontas da barra,
calçado adequado, e acima de tudo um máximo de concentração são factores chave
na prevenção dessas lesões (28).
Quaisquer donativos para apoiar o trabalho
aqui desenvolvido são recebidos com gratidão.
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