Ao longo das últimas décadas os
competidores de culturismo, modelos masculinos e até brinquedos de acção (como
G.I. Joe) tornaram-se cada vez mais musculados (1). Imagens musculares são
actualmente muito comuns na internet, televisão, filmes e revistas. Isto pode
influenciar jovens a se tornarem demasiado obcecados com a aparência muscular e
pode em casos extremos levar a uma forma de distorção de imagem corporal chamada de “dismorfia muscular” (1,2,3).
Nos Estados Unidos foi estimado
que cerca de 2.2% da população sofre de dismorfia de imagem corporal, e 9-25%
desses têm dismorfia muscular (1,3). Dismorfia muscular é caracterizada pela insatisfação com tamanho corporal, foram
corporal e muscularidade insuficiente. Outras características são desordens
de humor e ansiedade, comportamentos obsessivos e compulsivos, abuso de
substâncias e disfunção social e ocupacional (1,2,3).
Substâncias de abuso nestas
populações incluem hormona de crescimento, insulina, hormonas da tiróide e esteróides anabólicos, todos com potencial
tóxico (4). Foi estimado que 15-30% dos culturistas usam esteróides
anabólicos (5,6). Outros comportamentos de risco são também observados como práticas de injecção não seguras
(1,7,8).
A auto-administração de injecção de óleos localizados é um
procedimento cosmético usado para moldar os músculos na subcultura culturista
(9). Nesta subcultura existem teorias falsas sobre os efeitos destas práticas
no crescimento muscular (9,10). Algumas delas alegam que os óleos e cicatrizes podem
ser adicionadas permanentemente ao volume muscular ou gerar um processo
inflamatório benéfico despoletando hipertrofia e formação de novas fibras
(hiperplasia) (9).
Outro efeito chave no aumento
de musculatura pensa-se ter a ver com o alongamento
da fascia muscular devido aos implantes degradáveis de óleo (15). A fascia
por si é vista como limitadora do crescimento muscular. Isto significa que o músculo é capaz de
ultrapassar a estagnação para ganhar mais massa. Os óleos injectáveis contêm
predominantemente triglicerídeos de cadeia
média, anestésicos locais e álcool. Adicionalmente, sílica para prolongar a duração do volume muscular, esteróides anabólicos,
prohormonas ou colagénio é ocasionalmente adicionado a
essas preparações (15).
Os óleos injectáveis são
recomendados a serem injectados nos músculos em ciclos de várias semanas com
volumes crescentes (11). Os típicos protocolos de aplicação envolvem injecções
frequentes de 1-3ml diárias durante várias
semanas a 6 meses ou mais (15). O potencial de efeitos adversos a
longo-prazo é geralmente ignorado.
Os óleos são usados tipicamente para aumentar o
volume de músculos como bíceps, tríceps, deltóides, peitorais, abdominais,
quadríceps e gémeos (9).
Os compósitos mais associados
a isto são Synthol, PumpnPose, Syntherol™, EsikClean, Nuclear Nutrition Site
Oil, Cosmostan and Liquid Muscle (15). Como os óleos naturais são mais baratos
estes são mais atraentes em particular para culturistas amadores. Exemplos disto
são injecções de óleo de coco (12), óleo de sésamo (13,14,15,20), óleo de noz (16) e parafina (1,18,19,21).
Óleos purificados são usados pela indústria farmacêutica como solventes para drogas lipofílicas como em esteróides
anabólicos, e os culturistas descobriam cedo que algumas dessas preparações têm
o efeito secundário de despoletar inchaço
muscular devido ao efeito irritante (9).
Em particular, Esiclene (Formebolone) foi usado
para corrigir grupos musculares não favoráveis antes das competições (9). Numa amostra
de 100 culturistas, 5 de 33 que competiam admitiram o uso de Esiclene antes de
competição (22). Quando esta droga foi retirada, Christopher T. Clark, após
experimentar no próprio corpo, desenvolveu e registou a sua fórmula em 1999
sobre o nome de Synthol, mais tarde
chamado Syntherol (23).
Xilocaína ou procaína são adicionados para
aliviar a dor imediatamente após injecção e conservantes como álcool benzílico.
A maioria dos produtos vêm em garrafas de vidro com 100ml desde 75-400 dólares
cada (9).
Efeitos adversos
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side effects and complications
Outros efeitos adversos e complicações (9):
• Dores musculares após injecção durante uns dias,
piorado pela actividade muscular após a anestesia local dissipar;
• Altos musculares se a administração não for bem
distribuída ou após várias injecções no mesmo local;
• Infecções, abcessos,
buracos na pela, feridas crónicas
• Injecções intravenosas acidentais levando a embolia pulmonar e cerebral;
• Injecções intraneurais acidentais com danos permanentes
nos nervos (24);
• Atrofia muscular a longo prazo;
• Inchaço
local e linfonodos
Nos dos casos apresentados na tabela, um culturista de 25 anos com várias admissões hospitalares foi observado com ruptura completa de tríceps, e múltiplos cistos dentro do músculo do braço (12). O paciente estava agitado e a suar abundamente durante a examinação. As lesões sugeriam hematomas ou lesões proteicas. Foi também observado ruptura do tendão do trícep na inserção distal, provavelmente relacionado com o uso de esteróides anabólicos com progressiva rigidez e ruptura com o treino com pesos (25).
O paciente admitiu ter injectado óleo de coco. Outras práticas
ainda mais preocupantes tornaram-se
aparentes (12):
1. Uso não prescrito de insulina
rápida, que levou a 3 convulsões tónica-clónicas e deslocação recorrente do
ombro com osteoartrite avançada dentro da articulação glenoumeral esquerda e
lesão revertida de Hill-Sach;
2. Uso não prescrito de liotironina (T3) causando uma flutuação
de testes funcionais da tiróide e supressão endógena de hormonas tiróides e sexuais;
3. Injecções intramusculares de
vitamina B12 resultando em celulite inflamatória e admissão hospitalar para
administração de antibióticos por via intravenosa;
4. Uso de esteróides anabólicos
incluindo depósitos cíclicos de undecanoato de testosterona levando a ginecomastia e hemangiomas (tumores) hepáticos.
Noutros caso de estudo
(tabela), um homem de 40 anos e culturista semi-profissional tinha infecção sistémica e inchaços dolorosos
avermelhados no braço superior direito que o tinha forçado e descontinuar o
treino com pesos (15). Nos últimos 8 anos injectou diariamente 2ml de óleo de sésamo em várias regiões
intramusculares, resultando numa circunferência de braço até 70cm.
Ressonância magnética do corpo todo mostrou mais de “100 cistos de óleo intramusculares” no
braço esquerdo, ambos os ombros, pernas e peito sem sinais de infecção. As suas
localizações indicavam os locais de injecção frequentes ao longo dos últimos 10
anos. Contudo no braço direito havia uma dramática perda de anatomia muscular –
uma completa ausência de músculo normal. Mesmo até remoção cuidadosa dos detritos
fibróticos músculo saudável não foi observado em profundidade.
Após mais de um
ano de “abstinência credível de qualquer substitutos artificiais, drogas ou
injecções de óleo” não havia sinais de regeneração muscular relevante, e ainda
sofria de dores persistentes sem sinais de infecção. 3 anos após a operação o paciente ainda sofria de dores e fraqueza
moderadas.
Autores salientaram
que:
“Esta observação alarmante
indicando mutilação irreversível
muscular pode desencorajar a prática de injecção de óleos nos interessados
em culturismo e fitness”.
(15)
Tratamento
O tratamento não cirúrgico consiste em antibióticos
e esteróides durante os ataques inflamatórios (26) e terapia de compressão
para ulceras crónicas (19). Estratégias mais agressivas podem ser benéficas
para tentar remover o óleo em excesso e áreas infectadas antes que se possam
dispersar no tecido e gerar mais lesões (9,27). Contudo remoção cirúrgica agressiva pode resultar em perda desnecessária de tecido muscular e perda funcional no músculo.
Cirurgia plástica para remover as áreas
danificadas seguido de implantes de pele e silicone, ou até transplantes podem
ser necessários (9,28,29,30).
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