Ciência da Hipertrofia – Qual a melhor carga e intervalo de repetições?


Tensão mecânica parece ser o factor primário para uma resposta hipertrófica (1,2). Forças mecânicas são convertidas em sinais químicos num processo chamado de transdução mecânica. Isto causa respostas moleculares e celulares nas miofibrilas e células satélite (3), e stresse mecânico só por si pode estimular directamente o mTOR (iniciação da síntese proteica) (4,5).

 Um músculo não sabe contra o que contrai, apenas contrai ou relaxa (6).

Treinar até à falha, recrutando o máximo de unidades motoras possível parece ser optimal (7). Esta intensidade de esforço é talvez a variável singular que mais influencia o aumento da força muscular, contudo há uma capacidade limitada dos sujeitos não treinados para recrutar unidades motoras (8).

O recrutamento de unidades motoras e fibras musculares estimula o crescimento muscular independentemente do que causou esse recrutamento. Isso pode ser alcançado com cargas mais pesadas ou mais leves, com repetições mais baixas ou altas respectivamente (8). 

Cargas mais leves levantadas até à falha resulta numa activação de fibras musculares similar ao uso de cargas mais pesas, e os dois tipos de fibras são estimuladas praticamente ao mesmo grau (10,11).

Parece não haver diferença em hipertrofia desde que a fadiga seja induzida. Há praticamente ganhos de força e hipertrofia equivalentes ao levantar cargas pesadas ou mais leves até à falha (9-17).

- Um estudo que comparou séries de 80%RM vs 30%RM até à falha não resultou em diferenças significativas entre os grupos para “sujeitos activos recreativos” (10);

- Outro estudo comparou 3 séries com 75% RM a 4 séries com 30% RM até  à falha, novamente observou-se para ambos os grupos aumentos similares em área transversal para sujeitos não treinados (11);

- 3-5 vs. 20-28 repetições para cada exercício “até fadiga”, com aproximadamente volume igual também não resultou em diferenças significativas para sujeitos “fisicamente activos” (12);

- Cargas baixas, quando combinadas com oclusão vascular, promove hipertrofia equivalente a cargas mais pesadas com o mesmo número de séries e volume similar: 50%-30%RM vs. 80%-50%RM “até fadiga” para “sujeitos relativamente bem treinados” (14), e 50%RM vs. 80%RM “até exaustão” em sujeitos não treinados (15);

- Noutro estudo comparando um estilo de treino de potência ou powerlifting (baixas repetições, cargas altas) versus um estilo de treino de hipertrofia (repetições mais altas e cargas moderadas), desta vez com igualização de volume de carga e também até à falha muscular, não houve diferença na magnitude hipertrófica após 8 semanas de treino para “homens bem treinados” (16).
 


(Nota: sujeitos não treinados respondem bem a qualquer estímulo, tal  como sujeitos obesos respondem bem a qualquer dieta, contudo é de notar que a mesma tendência é observada em sujeitos treinados, caso contrário isto seria irrelevante.)

Contudo levantar cargas moderadas com repetições moderadas é menos exigente para o sistema nervoso, articulações, e é mais eficiente em termos de tempo quando comparado com cargas mais pesas e intervalos de repetição mais baixos; os sujeitos do grupo de hipertrofia podiam fazer mais volume caso fosse necessário (16).

Treinar até à falha pode por vezes originar lesões por excesso de treino (18,19) e para alguns reduzir os níveis de IGF-1 responsável por crescimento muscular passado pelo menos 11 semanas (20).

Então em resumo, desde que fadiga muscular seja atingida não interessa quantas repetições são feitas e nem com quanta carga.

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Referências:

1. Goldberg AL, Etlinger JD, Goldspink DF, et al. Mechanism of work-induced hypertrophy of skeletal muscle. Med Sci Sports. 1975 Fall;7(3):185–98.
2. Jones, DA and Rutherford, OM. Human muscle strength training: The effects of three different regimens and the nature of the resultant
changes. J Physiol 391: 1–11, 1987.
3. Toigo M, Boutellier U. New fundamental resistance exercise determinants of molecular and cellular muscle adaptations. Eur J Appl Physiol 97: 643–663, 2006.
4. Hornberger TA, Chu WK, Mak YW, et al. The role of phospholipase D and phosphatidic acid in the mechanical activation of mTOR signaling in skeletal muscle. Proc Natl Acad Sci USA. 2006;103(12):4741–6.
5. Zou K, Meador BM, Johnson B, Huntsman HD, Mahmassani Z, Valero MC, Huey KA, and Boppart MD. The αβ-integrin increases muscle hypertrophy following multiple bouts of eccentric exercise. J Appl Physiol 111: 1134–1141, 2011.
6. Fisher J, Steele J, Bruce-Low S, Smith D. Evidence-Based Resistance Training Recommendations. Med Sport 2011; 15(3): 147-62.
7. Willardson JM. The application of training to failure in periodized multiple-set resistance exercise programs. J Strength Cond Res 21: 628–631, 2007.
8. Fisher J, Steele J, Bruce-Low S, Smith D. Evidence-Based Resistance Training Recommendations. Med Sport 2013;15(3): 147-62.
9. Fuglevand AJ, Zackowski KM, Huey KA, Enoka RM. Impairment of neuromuscular propagation during human fatiguing contractions at submaximal forces. J Physiol 460: 549–572, 1993.
10. Mitchell CJ, Churchward-Venne TA, West DW, Burd NA, Breen L, Baker SK, Phillips SM. Resistance exercise load does not determine training-mediated hypertrophic gains in young men. J Appl Physiol 113: 71–77, 2012.
11. Ogasawara R, Loenneke JP, Thiebaud RS, and Abe T. Low-load bench press training to fatigue results in muscle hypertrophy similar to high-load bench press training. International Journal of Clinical Medicine 4: 114–121, 2013.
12. Leger B, Cartoni R, Praz M, Lamon S, Deriaz O, Crettenand A, Gobelet C, Rohmer P, Konzelmann M, Luthi F, Russell AP. Akt signalling through GSK-3beta, mTOR and Foxo1 is involved in human skeletal muscle hypertrophy and atrophy. J Physiol 576: 923–933, 2006.
13. Takarada Y, Sato Y, Ishii N. Effects of resistance exercise combined with vascular occlusion on muscle function in athletes. Eur J Appl Physiol 86: 308–314, 2002.
14. Takarada Y, Takazawa H, Sato Y, Takebayashi S, Tanaka Y, Ishii N. Effects of resistance exercise combined with moderate vascular occlusion on muscular function in humans. J Appl Physiol 88: 2097–2106, 2000.
15. Tanimoto M, Ishii N. Effects of low-intensity resistance exercise with slow movement and tonic force generation on muscular function in youngmen. J Appl Physiol 100: 1150–1157, 2006.
16. Schoenfeld BJ, Ratamess NA, Peterson MD, Contreras B, Sonmez GT, Alvar BA. Effects of different volume-equated resistance training loading strategies on muscular adaptations in well-trained men. J Strength Cond Res. 2014 Oct;28(10):2909-18
17. Ogasawara R, Yasuda T, Sakamaki M, et al. Effects of periodic and continued resistance training on muscle CSA and strength in previously untrained men. Clin Physiol Funct Imaging 2011; 31: 399-404.
18. Willardson JM. The application of training to failure in periodized multiple-set resistance exercise programs. J Strength Cond Res. 2007 May;21(2):628-31.
19. Ivan Chulvi Medrano. Muscular failure training in conditioning neuromuscular programs. Journal of Human Sport & Exercise Vol. V No II 2010 19 6-213
20. Mikel Izquierdo , Javier Ibañez , Juan José González-Badillo. Differential effects of strength training leading to failure versus not to failure on hormonal responses, strength, and muscle power gains. Vol.no.