Mecanismos de Hipertrofia [3/3]: Stress Metabólico – Estratégias e Técnicas de Treino [Parte 2/2]



Estratégias de Treino

1. Esquemas de Repetições

Esquemas de repetições moderadas dependem em grande parte da glicólise anaeróbica (1,2). Isto resulta numa significante acumulação de metabólitos. A acumulação desses metabólitos tem um impacto significativo em processos anabólicos (1,3). Pode haver um limiar máximo para a hipertrofia induzida por tensão, acima do qual factores metabólicos tornam-se mais importantes que aumentos na carga (1).

Esquemas de repetição moderados também maximizam a hidratação celular aguda. Durante treino com repetições moderadas, as veias que permitem que o sangue saia dos músculos em trabalho são comprimidas enquanto as artérias continuam a entregar sangue aos músculos. Isto cria um aumento da concentração do sangue intra-muscular. 


Esta acumulação de fluido nos espaços intersticiais causa um gradiente de pressão extra-celular, conhecido como “pump”. Isto é ainda aumentado pela acumulação de subprodutos metabólicos, que funcionam como osmólitos, atraindo fluido para a célula (1,4).

2. Falha Muscular

Treinar até à falha pode activar um maior número de unidades motoras (5). O princípio de Hanneman (de activação de unidades motoras) indica que as unidades motoras são recrutadas por ordem das mais pequenas para as maiores com maior produção de força (6,7). 

Se uma contracção sub-máxima é sustida as unidades motoras que foram inicialmente recrutadas fadigam, assim produzindo menos força ou deixando de trabalhar completamente, e são necessárias unidades motoras adicionais (8). Isto resulta num estímulo adicional para hipertrofia (9).

Segue-se que enquanto as repetições são repetidas ou enquanto se progride na série até à falha é alcançado recrutamento de unidades motoras próximo do máximo (10).

3. Intensidade

Cargas mais baixas (30% RM) até à falha resultam em hipertrofia similar que cargas mais pesadas (80%RM) (pelo menos em sujeitos recreativos) (11). Levantar cargas mais leves, desde que seja atingida a falha, resulta em hipertrofia e ganhos de força praticamente equivalentes (11,12,13,14,15).

Cargas mais leves levantadas até à falha também resultam em activação de fibras musculares similares em comparação com cargas mais pesadas, e ambos os dois tipos de fibras são estimulados de forma igual (11,16).

4. Tempo sob tensão

Tempo sob tensão tem sido demonstrado estimular crescimento optimal (17). O tempo sob tensão durante séries de repetições baixas parece ser sub-optimal para hipertrofia.

Um aumento no tempo sob tensão pode aumentar o potencial para mais micro-traumas e fadiga. Isto pode parece ser mais aplicável para a hipertrofia da fibras mais lentas, que têm maior capacidade de resistência e assim podem beneficiar mais de um tempo sob tensão maior (1).

5. Intervalos de Descanso

Intervalos de descanso curtos (30s) tendem a gerar stress metabólico significativo que resulta em acumulação de metabólitos, o que aumenta processos anabólicos (1,18), contudo isto compromete a tensão mecânica. 

Intervalos de descanso moderados (60s) parecem oferecer uma combinação satisfatória entre períodos de descanso curtos e longos para maximizar a hipertrofia (1).

Intervalos de descanso moderados (60s) induzem maior hipoxia, elevando o potencial para crescimento muscular (1,19). Descansos moderados são também associados com maior acumulação de metabólitos que fazem aumentar as contracções de hormonas anabólicas após o exercício (1,20) (o que não é relevante).

Técnicas de Treino

1. Drop sets

Drop sets consistem em executar uma série até falha muscular e reduzir imediatamente a carga e continuar outra série (21). Podem ser efectuados vários dropsets desta forma. Quanto mais dropsets maior a fadiga de todo o músculo (22) e maior o stress metabólico para as fibras lentas. 

De salientar que as fibras rápidas (para uma carga determinada) estão todas envolvidas quando se alcança a falha. Dropsets permitem um aumento no tempo sob tensão, mais stress metabólico e isquemia.

2. Séries Ascendentes

Isto é quase o oposto de dropsets. Em vez de se reduzir o peso em cada vez, o peso é aumentado em cada vez enquanto as repetições diminuem (12+10+8+6).

Séries ascendentes podem ser benéficas para adiar a fadiga (rápida com repetições baixas) e permitem acumulação de lactato até falha muscular onde os músculos são recrutados ao máximo. As fibras lentas serão optimamente estimuladas com logos períodos sob tensão.  

3. Super-séries

Super-séries são 2 ou mais exercícios seguidos executados sem descanso (21,27). Super-séries podem ser executadas para o mesmo músculo, ou para músculos opostos como em séries agonistas-antagonistas. Porque não há descanso entre séries, isto pode aumentar a fadiga e stress muscular (28), tal como com dropsets de repetições moderadas. Super-séries são para serem feitas até à falha (todos os exercícios).

4. Oclusão

Treino de oclusão causa restrição de fluxo sanguíneo e envolve obstrução do fluxo do sangue para as veias mas não para as artérias que continuam a entregar sangue ao membro (25,26). Por outras palavras, o sangue entra mas custa a sair. Isto é usado usando bandas elásticas nas pernas e braços (25).

O fluxo sanguíneo não deve ser completamente restrito, deve ser restrito em cerca de 50-70%. Uma escala de pressão percebida deve ser usada, como por exemplo de 1-10 (10-100%). Durante oclusão as células musculares ficam tão cheias de fluido que têm de crescer ou morrer (29).

Restrição de fluxo sanguíneo aumenta o inchaço celular, o baixo nível de oxigénio e acumulação de sangue aumentam o recrutamento de fibras musculares rápidas (16,19,30,31) e aumentam o ácido láctico no sangue que estimula síntese proteica (32).

Períodos de descanso curtos (30s) são para este efeito óptimos (32). Interessantemente, a acção concêntrica é mais importante que a excêntrica (33), o que é o oposto do treino tradicional onde o excêntrico causa mais danos e maior síntese proteica. Isto porque as forças na contracção excêntrica podem ser geradas a um custo metabólico relativamente baixo comparado com contracções isométricas ou concêntricas (34).

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Referências:

1. Brad Schoenfeld. The mechanisms of muscle hypertrophy and their application to resistance training. J Strength Cond Res. 24(10): 2857–2872, 2010. 
2. Robergs, RA, Ghiasvand, F, and Parker, D. Biochemistry of exercise induced metabolic acidosis. Am J Physiol. Reg Int Comp Physiol  287: R502–R516, 2003.
3. Kraemer, WJ and Ratamess, NA. Hormonal responses and adaptations to resistance exercise and training. Sport Med 35: 339–361, 2005.
4. Sjøgaard, G, Adams, RP, and Saltin, B. Water and ion shifts in skeletal muscle of humans with intense dynamic knee extension. Am J Physiol 248: R190–R196, 1985
5. Willardson JM. The application of training to failure in periodized multiple-set resistance exercise programs. J Strength Cond Res 21: 628–631, 2007.
6. Henneman E. Relation between size of neurons and their susceptibility to discharge. Science 126: 1345–1347, 1957.
7. Henneman E, Somjen G, Carpenter DO. Functional significance of cell size in spinal motoneurons. J Neurophysiol 28: 560–580, 1965.
8. Fallentin N, Jorgensen K, Simonsen EB. Motor unit recruitment during prolonged isometric contractions. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 67:335–341, 1993.
9. Rooney, KJ, Herbert, RD, and Balnave, RJF. Fatigue contributes to the strength training stimulus. Med Sci Sport Exerc 26: 1160–1164, 1994.
10. Fuglevand AJ, Zackowski KM, Huey KA, Enoka RM. Impairment of neuromuscular propagation during human fatiguing contractions at submaximal forces. J Physiol 460: 549–572, 1993.

11. Mitchell CJ, Churchward-Venne TA, West DW, Burd NA, Breen L, Baker SK, Phillips SM. Resistance exercise load does not determine training-mediated hypertrophic gains in young men. J Appl Physiol 113: 71–77, 2012.
12. Leger B, Cartoni R, Praz M, Lamon S, Deriaz O, Crettenand A, Gobelet C, Rohmer P, Konzelmann M, Luthi F, Russell AP. Akt
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13. Takarada Y, Sato Y, Ishii N. Effects of resistance exercise combined with vascular occlusion on muscle function in athletes. Eur J Appl Physiol
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14. Takarada Y, Takazawa H, Sato Y, Takebayashi S, Tanaka Y, Ishii N. Effects of resistance exercise combined with moderate vascular occlusion on muscular function in humans. J Appl Physiol 88: 2097–2106, 2000.
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21. Brad Schoenfeld. The Use of Specialized Training Techniques to Maximize Muscle Hypertrophy. Strength & Conditioning Journal: August 2011 - Volume 33 - Issue 4 - pp 60-65
22. Willardson JM. The application of training to failure in periodized multiple-set resistance exercise programs. J Strength Cond Res 21: 628–631, 2007.
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33. Schoenfeld, BJ (2013). Potential mechanisms for a role of metabolic stress in hypertrophic adaptations to resistance training. Sports Med, 43(3), 179-194.


34. Bigland-Ritchie B, Woods JJ (1976) Integrated electromyogram and oxygen uptake during positive and negative work. J Physiol (Lond) 260:267-277