Nutrição Desportiva - Que Quantidade de Proteína é Necessária Após o Exercício?


A ingestão proteica é capaz de estimular a síntese proteica muscular (MPS) acima do ritmo basal (1,2), e essa resposta é maior se combinado com treino com resistência (3).

A síntese proteica muscular aguda em resposta ao exercício é em dose-resposta de acordo com a intensidade e carga de exercício (4). Em intensidades maiores que 60%1RM o exercício aumenta a MPS em cerca de 2 a 3 vezes mais (4), e a latência para intensidades de 6x8 repetições com 75%RM é <1 h (7). Após um período latente após o exercício de 45 minutos a 1 hora, a MPS aumenta rapidamente (2-3x) entre 45 e 150 min (4).

Em repouso e em jejum, o músculo esquelético está num estado negativo de balanço proteico (5). Contudo, em resposta a ingestão de aminoácidos (AA) ou proteína, os ritmos de MPS aumentam e resultam num balanço positivo proteico (3,6). Ao longo do tempo as alterações nos períodos em jejum e pós-prandial e os seus relativos balanços proteicos resultam em aumento muscular ou atrofio muscular (6).

A maior sensibilidade da MPS em resposta a ingestão de aminoácidos essenciais após o exercício (3) pode durar até 24h (7), 24-48h (8,9), ou até 72h (10). Sendo assim, repetidas sessões de treino com resistência e alimentação proteica resultam em hipertrofia muscular (11).

Evidências disponíveis apontam para uma dose optimal de 20-25g de proteína de alta qualidade para estimular a MPS após treino com resistência em adultos (1,2).

20g

Moore e colegas (12) examinaram a relação dose-resposta entre a MPS e treino com resistência. Os participantes com experiência de treino entre 4 a 8 anos foram alimentados com proteínas do ovo após o treino. O treino consistiu em exercício unilateral de pernas.

As doses de proteína do ovo foram de 0, 5, 10, 20 ou 40g após o exercício e a síntese proteica muscular for medida do vastus lateral e oxidação de leucina do corpo todo ao longo de 4 horas. Foi observada uma dose-resposta a ingestão proteica que foi maximizada em 20g sem benefícios estatisticamente significantes com ingestão de 40g.

Com 20g de proteína (8.6g de aminoácidos essenciais) houve um aumento de 93% na taxa de síntese proteica acima do valor em jejum; uma dose de aminoácidos essenciais muito similar ao observado em repouso (10g) (13). Um estudo anterior também confirmou a mesma observação (21g vs 40g) (14).

Num estudo por Witard e colegas (15), jovens com 80kg e treinados executaram exercício unilateral de pernas (8x10 na prensa e extensões, com 80%1RM), e também ingeriram 0, 10, 20 ou 40g  neste caso de whey isolada imediatamente (10min) após os exercício. Também mediram a MPS do músculo vastus lateral.

A dose de 20g de whey foi suficiente para maximizar a estimulação da síntese proteica muscular miofibrilar no músculo em repouso e exercitado. Uma dose maior que 20g estimulou a oxidação de aminoácidos e ureiagénese.

Resultados similares foram também observados em descanso (sem exercício) usando comida; 30g de proteína de bife foi tão eficaz como 90g ao estimular a MPS em jovens e idosos (16).

O limite máximo de MPS pode em parte ser explicado pelo que foi chamado de “muscle full effect” (17). Esta hipótese (18) sugere um limite máximo além do qual as células deixam de responder e começam a oxidar aminoácidos (19).

Após um atraso de 30min há um grande aumento (3x) e a MPS atinge o pico cerca de 1.5h depois antes de voltar ao basal após 2h (20,21) apesar de continuada a disponibilidade de aminoácidos em circulação e “sinal anabólico” sustido (19,20), e cerca de 3h em resposta a uma refeição completa com proteína, hidratos de carbono e gorduras.

Contudo há alguma evidência que este efeito refractário é adiado pelo exercício por pelo menos 6h ( não é claro o que acontece entre as 6h e 24h após exercício) (8).  

Não obstante, parece que 20g de whey (0.25g/kg) é suficiente para maximizar a síntese proteica muscular tanto em descanso (13) como após exercício (23) independentemente do estatuto de treino (15). Uma dose de proteína acima deste limite é oxidada a um ritmo mais elevado (12,15) e resulta em produção de ureia (15).

Mas como outros autores notaram, estes estudos são limitados a treino de pernas apenas e “assim permanece desconhecido se a dose absoluta de proteína necessária para estimular ao máximo a síntese proteica após um treino de corpo todo é superior a 20g”. (1).

40g

O pensamento corrente é que quanto maior a massa magra e massa muscular maior a dose de proteína necessária para maximizar a MPS (1,2,23). Outra suposição é a de que a massa muscular total envolvida no exercício também influencia a resposta.

Tipton e colegas testaram esta hipótese em homens jovens e treinados ao examinar a resposta da síntese proteica a duas doses de whey isolada ingeridas após o exercício envolvendo uma maior massa muscular, isto é uma rotina de treino de corpo inteiro (24). Os 2 grupos também diferiam em massa magra (65 kg vs. 70 kg). Tal como estudos anteriores, também mediram a MPS do músculo vasto lateral.

Os resultados sugerem que a dose de 40g estimulou mais a MPS que 20g durante as 5h após o treino, apesar das diferentes quantidades de massa magra.

De notar a resposta individual, tal como sempre uns respondem melhor que outros, por outras palavras uns podem precisar de mais proteína para obter a mesma resposta que outros.

Especificamente, “a taxa de síntese foi 20% mais alta com 40g comparado com 20g de whey após treino de corpo todo, independentemente do grupo.”

Os autores acreditam que a explicação mais provável tem a ver com a maior massa muscular activada pelo exercício de corpo inteiro comparado com exercício unilateral de pernas apenas em estudos anteriores (12,15).

Isto desafia o consenso geral que a ingestão de 20-25g de proteína após exercício com resistência é suficiente (1,2,23).

O treino com resistência aumenta a disponibilidade de aminoácidos no músculo trabalhado ao aumentar o fluxo sanguíneo (3,5), assim quanto maior a quantidade de músculo trabalhado no treino maior a quantidade de aminoácidos absorvidos pelos músculos (24).

Mas, como a disponibilidade de aminoácidos a um músculo singular pode ser limitada com treino de corpo inteiro, mais proteína é necessária para uma maior resposta da MPS a qualquer músculo trabalhado (24).

E mais importantemente, devido a isto os autores salientam que “os valores médios de ritmo de síntese proteica são aproximadamente 71% e 76% dos valores para 20 e 40g respectivamente, das doses reportadas anteriormente”.

Significando que as resposta a qualquer músculo singular treinado numa sessão de corpo inteiro é mais baixa se treinado de um modo isolado, mesmo que se consuma 40g de whey.


Seguindo estas observações, a ingestão de 20g de whey pode ser insuficiente após um treino de corpo inteiro para todos os músculos trabalhados. Na experiência com 40g havia mais aminoácidos disponíveis para todos os músculos trabalhados e a MPS medida nas pernas foi capaz de responder melhor, mas mesmo assim mais baixo que estudos anteriores (pelo menos para o vastus lateral) (24).

Autores concluíram:

“Assim, parece que a quantidade de músculo possuído pelo indivíduo é um determinante menos importante da dose máxima eficaz de proteína a ingerir que a quantidade de músculo activado durante o exercício. Concluímos que mais proteína é necessária para um aumento de MPS após um treino de corpo inteiro comparado com treino unilateral de pernas apenas. Ainda mais, não é possível determinar qual a dose de proteína necessária para maximizar a MPS. Examinámos apenas duas doses.” (24).

Então em termos práticos e em princípio, se querem maximizar os resultado ou salientar um músculo específico (também subdesenvolvido), têm duas opções: ou fazer treino de isolamento para esse músculo (splits) ou possivelmente ingerir mais que 40g de whey após um treino de corpo inteiro já que mais é dispersado por todo o corpo para todos os músculos trabalhados. 


Outras populações

Populações doentes e idosas têm diferentes necessidades proteicas. Os adultos mais velhos têm “resistência anabólica” em resposta a ingestão de proteína e aminoácidos (25). Como consequência do envelhecimento, a síntese proteica muscular torna-se refratária a hiperaminoacidemia, particularmente com ingestão proteica baixa (269, significando que homens mais velhos e saudáveis são menos sensíveis a doses de proteína mais baixas e necessitam de uma ingestão proteica relativa mais alta até 0.40g/kg (27) por refeição que homens jovens para maximizar a síntese proteica muscular pos-prandial (27,28).

De ter em conta que isto é a média estimada, a dose pode ser tal alta como 0.60g/kg para alguns homens mais velhos (dependendo dos factores contribuentes para a “resistência anabólica” da MPS) e 0.40g/kg para alguns homens jovens (27).

As desregulação da sinalização intracelular (14), a redução no fluxo sanguíneo pós-prandial (29), inflamação crónica sub-clínica (30), uma extracção maior de aminoácidos nos tecidos viscerais (31), e ou redução de actividade habitual (32) são todos factores que contribuem e podem explica a resistência anabólica com o envelhecimento.

Outros factores independentes da idade são desuso muscular (32,33,34), doença (30), e ou proteína de baixa qualidade com baixo conteúdo de leucina (35,36).

Interessantemente, 113.4g de bife podem aumentar o ritmo de síntese proteica da mesma forma em ambos idosos e jovens em 51% sugerindo que uma dose normal de bife fornece aminoácidos suficientes para ultrapassar qualquer deficiência na resposta (37).

Resultados a curto-prazo não devem ser necessariamente traduzidos em ganhos a longo-prazo

Tal como notado anteriormente, o aumento em MPS pode ser sustido até 24h (7), 24-48h (8,9) ou até 72h (10). Outro ponto é que as medições agudas (1-6h pós-exercício) de MPS não foram correlacionadas com hipertrofia muscular como resultado de treino com resistência (38).

O catabolismo proteico muscular é também importante para a regulação da hipertrofia muscular a longo-prazo, e o balanço (positivo) crónico entre anabolismo e catabolismo é mais importante que apenas considerar  elevações agudas em MPS.

Foi mostrado, como mencionado anteriormente, um aumento de 50% em catabolismo proteico muscular durante 3 horas após treino com resistência (5). Este aumento catabólico pode ser reduzido em 30% em resposta a 20g de aminoácidos essenciais + 30g ou 90h de ingestão e hidratos de carbono (39).

É difícil traduzir os efeitos agudos de MPS em adaptações crónicas. Vários factores como os métodos de análise, estatuto de treino, tipo e intensidade de exercício, energia e quantidade de hidratos de carbono da dieta, tipo de proteína e temporização, e duração do estudo influenciam as necessidades proteicas (40).

Novas metodologias para medir a MPS cumulativa (C-MPS), tais como óxido de deutério devem ser aplicadas para medir respostas a longo-prazo para melhor se compreender as flutuações dinâmicas nas necessidades proteicas (40).


(41)

Treino com resistência resulta em hipertrofia muscular inicial (3-4 semanas), com progresso seguinte bastante lento em comparação, e com aumentos de tamanho muscular reportados em 5-15% passados 8 semanas. A resposta cumulativa do treino usando D2O tem demonstrado aumentos de 30% em MPS passado numa semana, que diminui com o tempo mas resulta em hipertrofia muscular (41).

Mais ainda, uma meta-análise examinou o feito da temporização de proteína na hipertrofia e concluiu que a ingestão proteica total é o maior previsor de hipertrofia muscular e que a temporização de proteína não influencia a hipertrofia (42).

Em conclusão, se fizerem sessões de treino de corpo inteiro uma dose de 40g whey pode ser mais vantajosa que 20g, contudo o total de proteína diária continua a ser mais importante.

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Referências

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