Vamos agora ver em mais detalhe a
disposição de hidratos de carbono em excesso. Após esvaziadas as reservas de glicogénio, as reservas demoram até 4
dias a saturar (1). Manipulações extremas de hidratos de carbono resultam
em ajustamentos rápidos
auto-regulatórios nos ritmos de oxidação de hidratos de carbono (2,3) a
curto prazo, e o efeito persiste após a normalização da dieta em respostas às
reservas de glicogénio perturbadas (2).
Com a iniciação de sobrealimentação
com hidratos de carbono (após total esvaziamento das reservas), há um aumento
dramático nos ritmos de oxidação de 74 ± 40
g/dia (dia 3) para 398 ± 87 g/dia (dia 4) (1). Após isso a utilização de
hidratos de carbono (oxidação e lipogénese) aumentou progressivamente em
resposta ao aumento da ingestão, chegando aos 1010 ± 37 g/dia no último
dia (7 dias) (1).
Ao
final do segundo dia de excesso, as reservas de glicogénio aumentam em 500g. A partir
desse ponto a oxidação e armazenamento tornou-se insuficiente para lidar com
todo o excesso de hidratos de carbono, e uma parte teve de ser convertida para
gordura (lipogénese). Passados 4 dias as
reservas de glicogénio saturaram nas 700g (ocorreu no quinto dia para um
sujeito). Quando as reservas de
glicogénio saturam, excesso de hidratos é lidado com ritmos de oxidação altos
(1).
Noutro estudo
(12 dias), ingestão de 540g/dia de hidratos de carbono e 83g/dia em excesso e
défice calórico respectivamente, exerceu um feedback directo auto-regulatório
na oxidação )551 e 106g/dia pelo 12º dia para excesso e défice,
respectivamente) (4).
Com excesso há
um grande aumento na oxidação mas também
no armazenamento de glicogénio (339 g/dia). O balanço foi alcançado após os
primeiros dias e pelo 12º dia a oxidação era de 551g/dia comparado com uma
ingestão de 539g/dia. A oxidação fornecia 8.68 MJ/dia, desse modo a oxidação de
gordura foi suprimida. Durante o excesso,
o rimo metabólico em repouso aumentou em 0.42 MJ (5.7%) e o dispêndio
energético total aumentou em 0.75 MJ (6.2%).
Este estudo
também experimentou défice. Como esperado
ao longo dos primeiros dias de défice houve um acentuado declínio na oxidação
de hidratos de carbono, reflectindo uma redução
gradual mas progressiva no glicogénio muscular.
Após o 4º dia a
ingestão de hidratos de carbono e oxidação eram bem próximos, com um balanço
negativo pequeno, mas persistente com ingestão de 83g/dia e oxidação de
106g/dia (1.67 MJ) ao 12º dia. Neste caso,
para manter as exigências energéticas do corpo, a oxidação de gordura aumentou.
O ritmo metabólico em repouso desceu em 0.82 MJ (8.3%) e o dispêndio energético
total desceu em 1.20 MJ (10.5%).
A contribuição
da proteína para mistura de combustível durante ambas as intervenções ficou
notavelmente constante.
Aumentos progressivos de oxidação e gasto
energético total
são observados com excesso de hidratos (50% de energia em excesso) (5). Os
aumentos em ambos foram evidentes no primeiro dia de excesso e atingiu o máximo
ao 7º dia de excesso (14 dias no total). O aumento do gasto energético total
era aproximadamente o dobro do que poderia ser explicado pela combinação do
aumento do Efeito Térmico Alimentar e aumento de massa corporal, significando
que a energia em excesso era mais oxidada e menos armazenada no corpo do que foi
observado com excesso de gorduras (5). Até mesmo ao 14º dia o gasto energético
total era maior com excesso de hidratos do que com excesso de gorduras, de modo
que a energia total armazenada foi mesmos do que com excesso de gorduras.
Este estudo
também comparou magros com obesos, e
notou-se que os obesos oxidavam
proporcionalmente mais hidratos e menos gordura do que os sujeitos magros
(5). A maior dependência na oxidação de hidratos de carbono durante
perturbações de equilíbrio energético pode ser um factor de risco para
obesidade (6,7,8). Sujeitos com maior
capacidade oxidativa muscular têm um rácio menor de gordura para massa magra em
ganho de peso (9).
Outro estudo
mostrou uma dose-resposta gradual em oxidação de hidratos de carbono (10). A resposta
metabólica a 6 fases de dieta (5 dias cada) foi quantificada desde 50% de
energia em excesso a 50% de défice energético dos hidratos de carbono, e 50% de
energia em excesso a 50% de défice energético vindo da gordura. Uma dose-resposta
foi observada na produção de glicose com aumentos respectivos em ingestão de
hidratos de carbono, que estimulou hiperinsulinemia moderada e reduziu a
lipólise e disponibilidade de ácidos gordos. O efeito foi aumentar as reservas
de glicogénio e fornecer glicose extracelular, favorendo assim a maior oxidação de hidratos de carbono e uma
diminuição reciproca na oxidação de gordura (10).
A disposição
não é diferente entre glucose, frutose e sacarose, em mulheres obesas de
magras (11). Diferentes hidratos de
carbono comportam-se essencialmente da mesma forma. 50% de excesso energético
quer com glicose, frutose e sacarose não resultou em diferenças significativas
no balanço de gordura, e não houve diferenças na oxidação de macronutriente e
balanços entre mulheres obesas e magras. Como esperado, a oxidação de hidratos
de carbono aumentou bastante em resposta a excesso de hidratos (de 15.61 a
21.94, 21.64, e 21.97 MJ para frutose, glicose, e sacarose respectivamente).
Do excesso de hidratos, mais de 74% foi oxidado
(comparado com apenas 18% no excesso de gordura), e em média 12% da energia em
excesso foi armazenada como glicogénio e 88% como gordura; sem diferenças
significativas entre qualquer das intervenções.
Tal como
visto noutro estudos (4,12), quase todo o armazenamento de gligogénio ocorreu
no primeiro dia, com desequilíbrio mínimo nos dias seguintes, que pode sugerir
que as reservas de glicogénio têm primeiro de ser perturbadas para gerar um
feedback de controlo.
O desequilíbrio
diário de hidratos de carbono com excesso de sacarose aproximou-se de zero
enquanto a oxidação de hidratos de carbono aumentava até estar a par da
quantidade ingerida. Isto causou um estagnamento do armazenamento de gligogénio
a um nível de 110g acima do valor inicial.
O glicogénio
deve ser regulado dentro de um intervalo muito restrito, e o tecido adipose evoluiu
como o maior compartimento de armazenamento de energia. Uma vez que as
alterações a curto-prazo no glicogénio sejam resolvidas, a energia em excesso
ou desequilíbrios positivos são lidados através das reservas de gordura.
Hidratos de carbono vs. proteína
Foi em
tempos pensado que o controlo auto-regulatório de oxidação era tão eficiente
como o de hidratos de carbono (13). Contudo, 160% de aumento na ingestão proteica
(de 47g/d durante défice energético para 122g/dia durante excesso energético)
apenas causou um aumento de 12% na oxidação de proteínas (de 83g/dia em défice
para 93g/dia durante o excesso) (4). Em contraste, um aumento de 550% na
ingestão de hidratos (de 83g/dia durante défice energético para 539g/dia em
excesso) foi quase igualado por 420% de aumento na oxidação (de 106g/dia em
défice energético para 551g/dia durante excesso).
A regulação após os hidratos de carbono foi
muito mais responsiva,
e certamente exerceu uma maior influência nas alterações reciprocas na utilização
de gorduras que a proteína (4). A proteína
toma uma posição subordinada a hidratos de carbono em termos de prioridade de oxidação.
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Referências:
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2. Tchkonia T, et al. (2002)
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