Mecanismos de Hipertrofia [2/3] – Danos Musculares [Parte 1/2]



Cada fibra muscular é uma única célula multi-nuclear, feita de unidades mais pequenas chamadas miofibrilas. As miofibrilas têm uma padrão repetido chamado de sarcómero que é a unidade funcional básica dos músculos. A miofibrila é feita de pequenas estruturas chamadas miofilamentos, que são longas cadeias de proteínas actina e miosina.

Outro conjunto de proteínas regula a interacção entre a actina e miosina. No filamento fino da actina há um local de acoplamento ou ligação onde a cabeça da miosina consegue alcançar e ligar-se, mas esses locais estão cobertos. O cálcio causa alterações estruturais e descobre esses locais para a miosina. Este cálcio é armazenado nas células musculares no retículo sarcoplasmático distribuído em voltas das miofibrilas. 


Treino de força pode resultar em danos musculares localizados. Quando um certo limiar é excedido os sarcómeros danificam-se (é assumido que o comprimento optimal do sarcómeros é de 2.5 μm). Isto danifica os elementos contrateis das estruturas miofibrilares, rompe o sarcolema e retículo sarcoplasmático, causa danos nos tecidos conectivos e lesões no citoesqueleto (1). Estes danos geram uma resposta hipertrófica (2,3).

Danos musculares são uma resposta frequente após exercício não acostumado, ou quando se pratica exercício de alta intensidade. Podemos experienciar rigidez e o chamado “delayed-onset muscle soreness” ou dores musculares tardias induzidas pelo exercício nos dias seguintes ao treino. Outras consequências metabólicas são aumentos na creatina-cinase, troponina I muscular, mioglobina e cadeia pesada da miosina (4).

Acções excêntricas

A melhor forma de induzir micro-rupturas é ao focar em treino excêntrico. A contracção excêntrica foi demonstrada em vários estudos causar mais danos, que têm sido também demonstrados mediar a resposta hipertrófica (5,6), causando remodelação miofibrilar (7,8).

A distribuição dos sarcómeros em cada miofibrila não é uniforme, os sarcómeros mais fracos estão localizados em regiões diferentes. Este alongamento não uniforme causa ruptura das miofibrilas e deforma as membranas (4).

A presença dos sarcómeros rompidos e danos no sistema de excitação-contracção (E-C) são sinais de danos musculares de exercício excêntrico (9).

Durante alongamento activo do músculo, grande parte da alteração do alongamento é a cargo dos sarcómeros mais fracos (10). Estes sarcómeros tornam-se progressivamente mais fracos e então alongam rapidamente, descontroladamente, ao ponto sem sobreposição no miofilamento.

Então os sarcómeros sobre-alongados ficam distribuídos aleatoriamente ao longo das fibras musculares. Quando o músculo relaxa, alguns miofilamentos na maioria dos sarcómeros sobre-alongados rompem-se (11).

Durante contracções excêntricas repetidas é postulado que o número de sarcómeros rompidos cresça até a um ponto onde ocorre danos na membrana. É neste ponto que os danos aos elementos do sistema E-C tornam-se aparentes. Consequentemente a fibra pode morrer (12) (Fig. 1).


Danos na membrana começam com o rompimento dos túbulos-T seguido de danos ao retículo sarcoplasmático e libertação descontrolada de Cálcio (Ca2+). Se estes danos forem excessivos o suficiente partes da fibra, ou até toda a fibra pode morrer. Os subprodutos das células mortas originam uma resposta de inflamação local associada com edema e dor no tecido (12). 

Embora não seja claro, o primeiro passo neste processo de lesão pode ser ruptura dos túbulos-T, levando a inactivação de alguns sarcómeros, mas a sequência reversa começando com ruptura nos sarcómeros pode também levar a danos nos túbulos-T (12).

Existem também observações de padrões anormais de túbulos-T após exercício excêntrico (13).

Acções excêntricas e produção de força

Os músculos alcançam forças absolutas mais altas quando contraem excêntricamente (14,15,16). Negativos forçados, ou acções excêntricas supra-máximas envolvem contracções excêntricas com um peso superior à repetição concêntrica máxima (1RM). Foi mostrado que a força excêntrica é aproximadamente 20-50% maior que a concêntrica (17) e até previsto ser 64% maior (52).

Contracções excêntricas podem estimular maiores adaptações (18), porque aumentos na força são pensados serem proporcionais à magnitude da força desenvolvida (19).

Treino excêntrico é mais eficaz ao aumentar a força total e excêntrica que treino concêntrico, e parece ser mais eficaz ao aumentar a massa muscular, possivelmente devido às maiores forças desenvolvidas. Adaptações após treino excêntrico são altamente específicas à velocidade e tipo de contracção (20).

Exercício excêntrico recruta preferencialmente as fibras rápidas do músculo (53,21,22,23), e talvez o recrutamento de unidades motoras anteriormente inactivas (21,24). Isto resulta num aumento da tensão mecânica nas fibras tipo II, que têm o maior potencial para crescimento (53,25,26,27).

Comparado com contracções concêntricas, contracções excêntricas também produzem menos fadiga e são mais eficientes ao nível metabólico. Contracções excêntricas não acostumadas produzem danos musculares agudos, dor e impedimento de força

Acções excêntricas e síntese proteica

Tensão muscular passiva desenvolve-se devido ao alongamento dos elementos extra miofibrilares, especialmente colagénio (28). Isto aumenta a tensão activa aumento a resposta hipertrófica.

Contracções excêntricas estimulam maiores ganhos em massa muscular comparado com contracções concêntricas e isométricas (29,30,31,32). A hipertrofia muscular máxima só pode ser alcançada se as acções excêntricas foram efectuadas (33).

Quando se levanta o mesmo peso concêntricamente e excêntricamente não há diferenças entre as duas contracções se o volume for igual. Contudo em alguns estudos houve uma pequena vantagem para as acções excêntricas (34,35). Acções excêntricas são melhor efectuadas com peso supra-máximo concêntrico, acima de 1RM concêntrico.

Alongamento do músculo aumenta mais a síntese proteica que contracção concêntrica (34), em parte ao libertar ácido fosfatídico que encoraja a síntese proteica (35). Outro caminho é através da activação das células satélite localizadas fora dos músculos. Células satélite movem-se para a área danificada e fundem-se com o músculo tornando-se parte dele (36), aumentando o tamanho da fibra muscular com adição do núcleo das células satélite ao músculo.

Quanto mais número mionuclear maior o potencial para crescimento. Estagnação acontece quando não conseguimos activar adequadamente as células satélite (37,38), sendo assim maximizar a carga excêntrica pode ser bastante benéfico.

Outros aumentos têm sido também observados, tais como um aumento mais rápido na síntese proteica (39), maiores aumentos na expressão de mRNA de IGF-1 (40), e elevações mais pronunciadas em p70S6k (41), quando comparado com outros tipos de contracção.

Em relação à cadência das repetições, repetições excêntricas mais rápidas libertam mais factores de crescimento, mais células satélite, e causam maior síntese proteica que repetições excêntricas mais lentas (42,43). Uma cadência de 2-3 segundos parece ser ideal para maximizar a resposta hipertrófica (43).

Treino excêntrico é também associado com maior stress metabólico. Maiores intensidades excêntricas aumentam a acumulação de lactato e aumentam os níveis hormonais anabólicos (44).

Contudo outra nota importante: medidas agudas (1-6h pós exercício) de síntese proteica muscular (MPS) em novatos não foram correlacionadas com hipertrofia muscular derivado de treino com resistência crónico (55). Há também uma revisão sobre a relação aguda de síntese proteica muscular e alterações em massa muscular (56). O catabolismo proteico é também importante na regulação da hipertrofia a longo prazo, e o balanço crónico (positivo) entre síntese proteica muscular e catabolismo muscular é mais importante.

Inchaço e dor muscular

Em humanos, a queda inicial em tensão após exercício excêntrico é seguida de um lento aumento durante 2-4h, presumivelmente como recuperação de exaustão metabólica. Passados 24h há uma segunda queda na tensão (45).

Exercício excêntrico é seguido por sensações de rigidez e dor no dia seguinte (46), danos musculares agudos, e redução na força (47).

Devido a exercício excêntrico o músculo é forçadamente alongado. Após 6-8h chega a tal dor típica com o pico após 48h (45,48). Uma segunda sessão de exercício excêntrico uma semana após a primeira deixa-nos menos rígidos e doridos.

A lesão origina uma resposta inflamatória local que é acompanhada por algum edema. Os subprodutos dos tecidos danificados sintetizam nocireceptores (12,45,49). Estes nocireceptores respondem a estímulo que são normalmente não-nocívos, deixando o músculo sensível ao toque local, alongamento e contracção. Um componente da dor derivada de exercício excêntrico pode envolver mecanoreceptores grandes das fibras (50,51).

O mecanismo de reparação envolve a adição de sarcómeros para regenerar a fibra muscular, tal como demonstrado em experiências animais.

Neurotrofinas migram para a área do micro-trauma. Fibras danificadas libertam vários agentes que atraem macrofagócitos e linfócitos para o local lesionado. O propósito dos macrofagócitos é remover detritos celulares e produzir citocinas que activam mioblastos, macrofagócitos e linfócitos. Esta resposta despoleta a libertação de vários factores de crescimento que regulam a proliferação de células satélite e diferenciação (44).

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