Dieta Bem Sucedida [4/5]: Quantidade de Hidratos de Carbono



Parece existir um limiar mínimo de hidratos de carbono a partir do qual reduções na quantidade afecta negativamente a performance e coloca em risco de perda de massa magra.



Longland et al. (1)

Examinei anteriormente este estudo no contexto da ingestão proteica. Agora vamos ver a quantidade de hidratos de carbono e relacionar com outros estudos, como o de Pasiakos (2013) que também analisei antes.

Para recapitular, neste estudo experimentaram com diferentes quantidades de proteína e exercício durante um défice de 40% durante 4 semanas (1). Todas as refeições e bebidas foram fornecidas durante o período de intervenção. O grupo de controlo consumiu 15% de proteína, 50% de hidratos de carbono, e 35% de gordura vs. 35% de proteína, 50% de hidratos de carbono e 15% de gordura no grupo PRO. Ambos os grupos consumiram a mesma quantidade de hidratos de carbono.




Após 4 semanas a massa magra aumentou mais no grupo PRO (+1.2kg) comparado com o grupo de controlo (0.1kg). O grupo PRO também teve mais perda de gordura que o de controlo (-4.8kg vs. -3.5 kg). De notar que o grupo de controlo com 1.2g/kg foi capaz de manter a massa magra.

Mettler et al. (2)

Neste estudo, 20 jovens saudáveis treinados foram examinados em dispêndio energético por 1 semana e alimentados com uma dieta mista (15% de proteína, 100% da energia de manutenção). Durante a segunda semana, todos os participantes foram alimentados com uma dieta também com calorias de manutenção (100%) mas com uma macro-composição de 50% de hidratos de carbono, 15% de proteína e 35% de gorduras.

Nas semanas 3 e 4 foram submetidos a uma dieta hipoenergética (60%) e divididos aleatoriamente a um grupo de controlo (50.2% de hidratos de carbono, 15% de proteína (1g/kg) e 35% de gorduras) ou a um grupo com proteína alta (51% de hidratos de carbono, 35% de proteína (2.31g/kg) e 15% de gordura).


Perda de peso total (-3.0kg e -1.5kg para o controlo e proteína alta, respectivamente) e perda de massa magra (-1.6kg e -0.3kg para o controlo e proteína alta, respectivamente) foi significativamente maior no grupo de controlo que no de proteína alta.

Garthe et al.  (3)

O objectivo deste estudo foi comparar alterações em composição corporal, força e potência durante perda de peso a um ritmo semanal de 0.7 % (SR) vs. 1.5%  (FR) de peso total. Vinte e quatro atletas seguiram uma deita hipocalórica com o objectivo de perdem o peso desejado por semana. Consumiram cerca de 1.2-1.8g/kg de proteína, 3.2-3.6g/kg de hidratos de carbono (54-55.5%) e 20% de gordura.


O peso corporal diminuiu em 5.6% e 5.5% (0.7 % e 1.5% por semana) nos dois grupos, e a massa gorda também diminuiu em 31% e 21. A massa magra aumento no grupo SR (0.7% por semana) e ficou inalterada no grupo FR.

Pasiakos et al. (4)

Brevemente, nesse estudo o défice foi de 30% com ingestão de proteína no valor da RDA (0.8g/kg), 2x RDA (1.6g/kg) e 3x RDA (2.4g/kg). Os resultados indicaram que o grupo com  2x RDA (1.6g/kg) perdeu mais gordura e menos massa magra comparado com  3x RDA (2.4g/kg) durante 21 dias de 40% de défice calórico.

A gordura não ultrapassou os 30% de energia total, e os hidratos de carbono forneceram o resto da energia prescrita.


As percentagens de hidratos de carbono foram de 57%, 44% e 27% para RDA, 2xRDA e 3xRDA, respectivamente.

No geral perderem 3.2kg durante os 21 dias; 3.5kg para RDA, 2.7kg par 2xRDA e 3.3kg par 3xRDA. O grupo 2xRDA perdeu mais gordura (70.1%) seguido por 3xRDA (63.6%), e RDA (41.8%). A perda de massa magra foi menor par 2xRDA (29.9%), seguido por 3xRDA (36.4%) e RDA (58.2%). Os resultados indicaram que 2xRDA com 1.6g/kg de proteína perdeu mais gordura e menos massa magra que 3xRDA.


Kistler et al. (5)

Neste caso de estudo, um atleta foi submetido a uma dieta restrita durante 26 semanas de preparação para uma prova de culturismo. No início da preparação o culturista consumiu 250g de proteína, 240g de hidratos de carbono e 70g de gordura durante 5 dias da semana (2539kcal, 37% de hidratos de carbono). Nos outros 2 dias os hidratos foram aumentados e distribuídos com doses similares ao longo do dia, com 225g de proteína, 400g de hidratos de carbono e 35g de gordura consumidos no total. 

Quanto o ritmo de perda de peso reduzia, uma redução de 5-10g de gordura ou hidratos de carbono por dia era implementado para manter a perda de peso. No final da preparação o culturista consumia 250g de proteína, 140g de hidratos de carbono e 51g de gordura durante 5 dias da semana (2019kcal, 27% hidratos de carbono), e 225g de proteína, 255g de hidratos de carbono e 46 de gordura nos outros dias dias da semana.

Como a ingestão de hidratos de carbono foi variável vou usar um valor intermédio de 32% para a tabela no final. O peso corporal desceu de 91.1 para 71.1kg (-20kg) e a percentagem de gordura desceu de 17.5 para 7.4% (-10.4kg) durante a preparação. Houve também uma perda de massa magra (-8.8%, -6.6kg).

De notar que o conteúdo/densidade mineral dos ossos aumentou.

Rossow et al. (6)

Este caso de estudo seguiu um culturistas natural durante 6 meses antes de depois da competição. Inicialmente durante o período preparatório, a dieta consistia em 36% de proteína, 36% de hidratos de carbono e 28% de gordura 5 dias por semana e 30% de proteína, 48% de hidratos de carbono e 22% de gordura durante 2 dias por semana.

Durante a preparação o total de calorias não se alterou dramaticamente, mas com reduções semanais modestas por semana em hidratos de carbono ou gordura (5-10g) baseado no ritmo do progresso de perda de peso. Imediatamente antes da competição, a deita consistia em 46% de proteína, 29% de hidratos de carbono e 25% de gordura.

A percentagem de gordura desceu de 14.8% para 4.5% durante a preparação e voltou aos 14.6 durante a recuperação. A força diminuiu durante a preparação e não recuperou durante os 6 meses de recuperação. A testosterona desceu de 9.22 para 2.27 ng/ml durante a preparação e voltou ao inicial (9.91 ng/ml) após a competição. Durante a preparação a massa magra não desceu muito (-3.9%; 2.81kg).

Robinson et al. (7)

Este caso de estudo documentou a nutrição  e condicionamento estruturado seguido por outro culturista amador, para melhorar a composição corporal. A ingestão de hidratos de carbono foi de 100g (20%), 79g de gordura (35%) e 212g de proteína (45%) durante 14 semanas.

Esta estratégia resultou numa perda de peso de 11.7kg, correspondente a 6.7kg de gordura e 5kg de massa magra. A perda de peso foi de 0.98% por semana. O défice energético foi de 882kcal.


Parece haver um limiar mínimo para hidratos de carbono abaixo do qual há mais perda de massa magra, por outras palavras ingestão de hidratos de carbono abaixo de um certo limite deixa de ser protector da massa magra

Todos os estudos e grupos (excepto o RDA em Pasiakos et al.) tiveram proteína alta, e o ritmo de perda de peso semanal foi entre os 0.5-1% (1.4% para o grupo com maior proteína em Longland et al.).

Parece que quando a quantidade de hidratos de carbono baixa dos 32% deixa de proteger a massa magra. Diria que, uma ingestão acima de 32-35%, ou mais precisamente talvez acima de 2g/kg é recomendável para poupar a massa magra o mais possível.

(Robinson et al. teve também alguns problemas no programa de treino que provavelmente também contribuiu para a perda de massa magra).

Gostarias de saber mais? Subscreve!


Referências

1. Thomas M Longland, Sara Y Oikawa, Cameron J Mitchell, Michaela C Devries, and Stuart M Phillips. Higher compared with lower dietary protein during an energy deficit combined with intense exercise promotes greater lean mass gain and fat mass loss: a randomized trial. Am J Clin Nutr 2016;103:738–46.
2. Mettler S, Mitchell N, Tipton KD (2010). Increased protein intake reduces lean body mass loss during weight loss in athletes. Med Sci Sports Exerc 42(2):326–337
3. Ina Garthe, Truls Raastad, Per Egil Refsnes, Anu Koivisto, and Jorunn Sundgot-Borgen. Effect of Two Different Weight-Loss Rates on Body Composition and Strength and Power-Related Performance in Elite Athletes. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 2011, 97-104
4. Pasiakos SM, Cao JJ, Margolis LM, et al. Effects of high-protein diets on fat-free mass and muscle protein synthesis following weight loss: a randomized controlled trial. FASEB J. 2013;27:3837–47.
5. Brandon M. Kistler, Peter J. Fitschen, Sushant M. Ranadive, Bo Fernhall, and Kenneth R. Wilund. Case Study: Natural Bodybuilding Contest Preparation. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 2014, 24, 694 -700
6. Lindy M. Rossow, David H. Fukuda, Christopher A. Fahs, Jeremy P. Loenneke, and Jeffrey R. Stout. Natural Bodybuilding Competition Preparation and Recovery: A 12-Month Case Study. International Journal of Sports Physiology and Performance, 2013, 8, 582-592
7. Scott Lloyd Robinson1, Anneliese Lambeth-Mansell, Gavin Gillibrand, Abbie Smith-Ryan and Laurent Bannock. A nutrition and conditioning intervention for natural bodybuilding contest preparation: case study. Journal of the International Society of Sports Nutrition (2015) 12:20