Estratégias para Aumentar a Resposta Anabólica de Proteínas Vegetais


As proteínas vegetais e animais diferem nas suas propriedades anabólicas. As proteínas animais são mais anabólicas que as vegetais mas existem alguns truques para optimizar a resposta anabólica de proteínas de origem vegetal.

Entre todas as proteínas vegetais, a proteína da soja é mais estudada. Geralmente a soja resulta em menos síntese proteica muscular comparado com fontes de proteína animais como whey (1,2), bife (3) e proteínas do leite (4).

As diferenças têm provavelmente a ver com diferentes ritmos ou cinética de absorção e composição de aminoácidos (5). As maiores diferenças são vistas no conteúdo de leucina, lisina e metionina, as proteínas de origem vegetal têm tipicamente um quantidade menor desses aminoácidos (6).


(5).

Leucina

Destes 3 aminoácidos a leucina é de particular importância. A leucina é o que estimula a síntese proteica muscular (7), e a quantidade de leucina de uma proteína é independentemente associada com a capacidade de estimular a síntese proteica muscular (7,8,9).

As proteínas animais têm mais leucina e a whey é considerada superior para a síntese devido ao maior conteúdo de leucina (13.7%) em comparação com soja isolada (10) e caseína hidrolizada (11) com 8% e 10.2% de leucina respectivamente.

Por outro lado, a proteína vegetal tem cerca de 6-8% de leucina comparado com 8.5-9% nas proteínas animais e >10% nas proteínas do leite. Esta diferença pode ser crucial na vantagem a falar das proteínas animais (11).

As proteínas da soja parecem contribuir mais para a síntese proteica visceral em vez de periférica (músculos) e são mais convertidas para ureia do que proteínas do leite. Alternativamente, diferenças observadas podem ser explicadas por diferentes conteúdos de leucina e a cinética de absorção (12).

A resposta anabólica pós-prandial em jovens saudáveis é dependente da dose até 20g (10g de aminoácidos essenciais) de alta qualidade e de fonte animal (13,14,15).

Por exemplo quando comparados 0g, 5g, 10g, 20g e 40g de proteína do ovo após exercício foi visto que 20g foram suficientes para maximizar a síntese proteica muscular. Isto equivale a cerca de 1.7g de leucina. Contudo para a dose de 40g (3.4g de leucina) não foram observadas diferenças em síntese proteica muscular (13).

A diferenças é também vista e longo prazo. 17.5g e proteína do leite vs. Soja resulta num maior ganho muscular após 12 semanas de treino (16). Noutro estudo, 24g de whey vs. soja também resultou em maior massa magra (3.3 vs 1.8kg) após 36 semanas de treino (17).

Estratégia 1: Aumentar a quantidade de proteínas vegetais por refeição e total diário

Noutra comparação entre soja e whey, 33g de soja ou whey aumentaram similarmente a síntese proteica muscular após uma sessão de exercício (18), o que sugere que maiores quantidades de proteínas vegetais podem minimizar os efeitos a longo-prazo.

Uma melhor resultado em aumento de massa magra e fibras musculares do tipo II foi também observado após uma dieta omnívora comparado com uma dieta lacto-vegetariana, após 12 semanas de treino (19).

A diferença é atenuada quando o total de proteína diário aumenta de 0.78g/kg para 1.15g/kg por dia (20), sugerindo que uma maior ingestão proteica pode reduzir as diferenças entre proteínas de fonte animais e vegetal em termos de ganhos em massa muscular/magra total (21) e que uma maior ingestão de proteínas vegetais pode em princípio compensar o menor conteúdo de aminoácidos essenciais.

Comparando 48g de proteína de arroz isolada vs. whey imediatamente após o exercício promoveu ganhos estatisticamente similares em massa magra (2.5 vs 3.2kg) após 8 semanas de treino (12). Com estas doses elevadas, a proteína de arroz com cerca de 3.8g de leucina e a whey com 5.5g de leucina foram mais que suficiente para optimizar a acreção proteica muscular (12,22).

Ao aumentar a quantidade de proteína consumida a importância relativa da quantidade de leucina da proteína diminui (23,24).


Maiores quantidades de proteínas vegetais por refeição, e consequentemente maior quantidade de aminoácidos essenciais (especialmente leucina), pode compensar pelas menores propriedades anabólicas para o músculo das proteínas vegetais (5).

Contudo, o consumo de maiores quantidades pode não ser nada prático, devido a maior quantidade de comida, e pode não ser alcançável (219. Por exemplo, em idosos o ritmo de oxidação de leucina é elevado após 40g de proteína de soja comparado com uma dose similar de whey (21). Como outros estudos também sugerem, parte dos aminoácidos da soja são oxidados em vez de serem usados para síntese proteica muscular em comparação com whey.

Outra preocupação é o facto de os idosos terem resistência anabólica e precisarem de maiores doses de proteína/leucina para estimular a mesma resposta anabólica (25); 20g de whey e soja não maximiza a resposta nos idosos (26).

Geralmente os mais velhos requerem a ingestão de maiores quantidades de proteína de alta qualidade, de fonte animal (<35-40g) (27,28,29) para maximizar o estímulo após a refeição.

Em teoria, quantidades consideráveis (>40g) de proteínas vegetais por dose devem ser ingeridas para maximizar a síntese proteica muscular pós-prandial em idosos, o que pode não ser nada prático (5).


(5)

Estratégia 2: Fortificação com leucina

Uma estratégica mais prática pode ser a adição de leucina livre a proteínas vegetais. A proteína de soja suplementada com BCAAs (leucina, isoleucina e valina) reduz a extracção visceral e síntese de ureia, consequentemente desviando os aminoácidos essenciais para os tecidos periféricos (músculo) (5,29).

Leucina adicionada a proteína do trigo para se igualar à quantidade presente em whey resulta em ritmos de síntese proteica muscular pós-prandial similar num modelo animal (5,30)

A fortificação com leucina pode ser um meio mais prático e eficaz de aumentar as propriedades anabólicas das protéinas de fontes vegetais (5).

Estratégia 3: Misturas de proteínas

Para não-veganos, misturas de proteínas podem ser uma boa estratégia. Misturas tais como a combinação de proteínas vegetais com proteínas derivadas do leite podem ser úteis para maximizar o potencial anabólico.

Por exemplo, num estudo não se encontrou diferenças mesuráveis na resposta de síntese durante as 4h pós-exercício com a ingestão de 17.7g de whey ou 19.3g de uma mistura de proteínas (25% whey, 25% soja e 50% caseína) (5,31).

Uma mistura de proteína com 50% de caseinato, 25% de whey, e 25% de proteína de ervilha aumentou os aminoácidos essenciais plasmáticos, especialmente aminoácidos de cadeia ramificada e reduziu o cortisol e 3-metilhistidina (um marcador de catabolismo proteico) em idosos (32).

Tenham atenção às misturas com mais de 50% de proteínas vegetais, tais elevadas quantidades podem conter menos leucina que uma quantidade similar derivada de fonte animal. Isto pode não ser um factor crítico para populações jovens e saudáveis mas terá certamente um maior impacto nos idosos e populações clinicamente comprometidas que requerem maiores quantidades de leucina (>2.5-3g) (5).

Para veganos, uma combinação equilibrada de múltiplas fontes vegetais, para facilitar a ingestão de um perfil “completo” de aminoácidos, deve ser suficiente. Como as proteínas vegetais são geralmente apenas baixas em 1 ou 2 aminoácidos essenciais, combinar fontes baixas em lisina e altas em metionina (trigo, arroz, milho) com fontes com maior quantidade e lisina e baixas em metionina (feijão preto, aveia, soja, lentilhas, ervilhas) podem aumentar as propriedades anabólicas da ingestão de proteínas vegetais (5).

Há outros factores a considerar acerca do perfil de aminoácidos disponíveis para processos metabólicos como síntese proteica, como por exemplo o caso da lisina. O cozinhar pode causar a desnaturação da lisina e ficando assim indisponível para síntese proteica (33).

Todos os cereais são limitados em lisina e maioria limitados em treonina; o triptófano é limitado no milho; legumes são suficientes em lisina, treonina e triptófano mas limitados em aminoácidos com enxofre (metionina, cisteína, homocisteína, e taurina). Deste modo a complementação (mistura) de cereais e legumes podem ajudar a formar misturas de proteínas vegetais mais adequadas (33).

Pontos a memorizar:

- As proteínas animais são mais anabólicas devido a maior quantidade de leucina;
- É necessário muito menos energia para se ingerir os aminoácidos essenciais necessários através de proteínas animais de alta qualidade que através de proteínas vegetais;
- Aumentar a ingestão de proteínas vegetais por refeição e totais (pode não ser prático);
- Fortificar com leucina;
- Usar misturas de proteínas (não-veganos).

Gostarias de saber mais? Subscreve para actualizações diárias!


Referências:
1. Tang JE, Moore DR, Kujbida GW, Tarnopolsky MA, Phillips SM. Ingestion of whey hydrolysate, casein, or soy protein isolate: effects on mixed muscle protein synthesis at rest and following resistance exercise in young men. J Appl Physiol 2009;107:987–92.
2. Yang Y, Churchward-Venne TA, Burd NA, Breen L, Tarnopolsky MA, Phillips SM. Myofibrillar protein synthesis following ingestion of soy protein isolate at rest and after resistance exercise in elderly men. Nutr Metab (Lond) 2012;9:57.
3. Phillips SM. Nutrient-rich meat proteins in offsetting age-related muscle loss. Meat Sci 2012;92:174–8.
4. Wilkinson SB, Tarnopolsky MA, MacDonald MJ, MacDonald JR, Armstrong D, Phillips SM. Consumption of fluid skim milk promotes greater muscle protein accretion after resistance exercise than does consumption of an isonitrogenous and isoenergetic soy-protein beverage. Am J Clin Nutr 2007;85:1031–40.
5. Stephan van Vliet, Nicholas A Burd, and Luc JC van Loon. The Skeletal Muscle Anabolic Response to Plant- versus Animal-Based Protein Consumption. J. Nutr. September 1, 2015  vol. 145 no. 9 1981-1991
6. Young VR, Pellett PL. Plant proteins in relation to human protein and amino acid nutrition. Am J Clin Nutr 1994;59: Suppl:1203S–12S.
7. WHO/FAO/UNU. Protein and amino acid requirements in human nutrition: report of a joint WHO/FAO/UNU expert consultation. World Health Organ Tech Rep Ser 2007;935:1–265.
8. van Loon LJC. Leucine as a pharmaconutrient in health and disease. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2012;15:71–7.
9. Garlick PJ. The role of leucine in the regulation of protein metabolism. J Nutr 2005;135: Suppl:1553S–6S.
10. Millward DJ, Layman DK, Tom´e D, Schaafsma G. Protein quality assessment: impact of expanding understanding of protein and amino acid needs for optimal health. Am J Clin Nutr 2008;87: Suppl:1576S–81S.
11. Tang JE, Moore DR, Kujbida GW, Tarnopolsky MA, Phillips SM. Ingestion of whey hydrolysate, casein, or soy protein isolate: effects on mixed muscle protein synthesis at rest and following resistance exercise in young men. J Appl Physiol 2009;107:987–92.
12. Joy JM, Lowery RP, Wilson JM, Purpura M, De Souza EO, Wilson SM, Kalman DS, Dudeck JE, Jager R. The effects of 8 weeks of whey or rice protein supplementation on body composition and exercise performance. Nutr J 2013;12:86.)
13. Witard OC, Jackman SR, Breen L, Smith K, Selby A, Tipton KD. Myofibrillar muscle protein synthesis rates subsequent to a meal in response to increasing doses of whey protein at rest and after resistance exercise. Am J Clin Nutr 2014;99:86–95.
14. Moore DR, RobinsonM, Fry J, Tang J, Glover E,Wilkinson S, Prior T, Tarnopolsky M, Phillips S. Ingested protein dose response of muscle and albumin protein synthesis after resistance exercise in young men. Am J Clin Nutr 2009;89:161–8.
15. Cuthbertson D, Smith K, Babraj J, Leese G, Waddell T, Atherton P, Wackerhage H, Taylor PM, Rennie MJ. Anabolic signaling deficits underlie amino acid resistance of wasting, aging muscle. FASEB J 2005;19:422–4.
16. Pennings B, Boirie Y, Senden JM, Gijsen AP, Kuipers H, van Loon LJ. Whey protein stimulates postprandial muscle protein accretion more effectively than do casein and casein hydrolysate in older men. Am J Clin Nutr 2011;93:997–1005.
17. Hartman JW, Tang JE, Wilkinson SB, Tarnopolsky MA, Lawrence RL, Fullerton AV, Phillips SM. Consumption of fat-free fluid milk after resistance exercise promotes greater lean mass accretion than does consumption of soy or carbohydrate in young, novice, male weightlifters. Am J Clin Nutr 2007;86:373–81.
18. Tipton KD, Elliott TA, Cree MG, Wolf SE, Sanford AP, Wolfe RR: Ingestion of casein and whey proteins result in muscle anabolism after resistance exercise. Med Sci Sports Exerc 2004, 36(12):2073-2081.
19. Campbell WW, Barton ML, Cyr-Campbell. Effects of an omnivorous diet compared with a lactovegetarian diet on resistance-training-induced changes in body composition and skeletal muscle in older men. Am J Clin Nutr 1999;70(6): 1032- 1039.
20. Haub MD, Wells AM, Tarnopolsky MA, Campbell WW. Effect of protein source on resistive-training-induced changes in body composition and muscle size in older men. Am J Clin Nutr 2002;76:511–7.
21. Campbell WW, Leidy HJ. Dietary protein and resistance training effects on muscle and body composition in older persons. J Am Coll Nutr 2007;26:696S–703S.
22. Norton L, Wilson GJ: Optimal protein intake to maximize muscle protein synthesis. AgroFood industry hi-tech 2009, 20:5457.
23. Norton LE, Wilson GJ, Rupassar I, Garlick PJ, Layman DK: Leucine contents of isonitrogenous protein sources predict post prandial skeletal muscle protein synthesis in rats fed a complete meal. FASEB 2009, 22:227.224.
24. Pasiakos SM, McClung HL, McClung JP, Margolis LM, Andersen NE, Cloutier GJ, Pikosky MA, Rood JC, Fielding RA, Young AJ: Leucine-enriched essential amino acid supplementation during moderate steady state exercise enhances
postexercise muscle protein synthesis. Am J Clin Nutr 2011, 94:809818.
25. Burd NA, Gorissen SH, van Loon LJ. Anabolic resistance of muscle protein synthesis with aging. Exerc Sport Sci Rev 2013; 41:169–73.
26. Yang Y, Churchward-Venne TA, Burd NA, Breen L, Tarnopolsky MA, Phillips SM. Myofibrillar protein synthesis following ingestion of soy protein isolate at rest and after resistance exercise in elderly men. Nutr Metab (Lond) 2012;9:57.
27. Burd NA, Pennings B, Groen BB, Gijsen AP, Senden JM, van Loon LJ. The single biopsy approach is reliable for the measurement of muscle protein synthesis rates in vivo in older men. J Appl Physiol 2012;113:896–902.
28. RobinsonMJ, Burd NA, Breen L, Rerecich T, Yang Y, Hector AJ, Baker SK, Phillips SM. Dose-dependent responses of myofibrillar protein synthesis with beef ingestion are enhanced with resistance exercise in middle-aged men. Appl Physiol Nutr Metab 2013;38:120–5.
29. Engelen MP, Rutten EP, De Castro CL, Wouters EF, Schols AM, Deutz NE. Supplementation of soy protein with branched-chain amino acids alters protein metabolism in healthy elderly and even more in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Clin Nutr 2007;85:431–9.
30. Norton LE, Wilson GJ, Layman DK, Moulton CJ, Garlick PJ. Leucine content of dietary proteins is a determinant of postprandial skeletal muscle protein synthesis in adult rats. Nutr Metab (Lond) 2012;9:67.
31. Reidy PT, Walker DK, Dickinson JM, Gundermann DM, Drummond MJ, Timmerman KL, Fry CS, Borack MS, Cope MB, Mukherjea R, et al. Protein blend ingestion following resistance exercise promotes human muscle protein synthesis. J Nutr 2013;143:410–6.
32. Olza J, Mesa MD, Poyatos RM, Aguilera CM, Moreno-Torres R, Perez M, Perez de la Cruz A, Gil A. A specific protein-enriched enteral formula decreases cortisolemia and improves plasma albumin and amino acid concentrations in elderly patients. Nutr Metab (Lond) 2010;7:58.
33. Paul B. Pencharz, Rajavel Elango, and Robert R. Wolfe. Recent developments in understanding protein needs – How much and what kind should we eat? Appl Physiol Nutr Metab. 2016 May;41(5):577-80